sexta-feira, 13 de setembro de 2013

O «Instituto Militar do Colégio de Odivelas»,
ou fazer história?

João J. Brandão Ferreira

Com o título «Fazer história» escreveu a Secretária de Estado da Defesa (SED), Dr.ª Berta Cabral (BC), um patético artigo no DN do pretérito dia 2. Parto do princípio que foi ela a autora.

Nele congratulava-se com o facto de, supostamente ter-se extinto a «última limitação de género da república portuguesa (em minúsculas, como no original), por se permitir que as raparigas possam frequentar o Colégio Militar (CM) (faltam ainda os conventos, seminários e colégios privados, mas não vamos hoje por aí).

Tal deriva da grosseira idiotice governamental que, através de um despacho do MDN, encerra o Instituto de Odivelas (IO)[1] – essa sim, uma realização histórica notável – fazendo passar as suas alunas para um internato/externato a constituir no CM, descaracterizando por completo esta outra, mais do que bicentenária instituição educacional e revolucionária (no sentido do Bem) para a época. E que se mantém actual!

Será que lhe irão chamar o nome que faz parte do título?

A ignorância e desfaçatez destes políticos, não tem fundo.

Que diz a senhora?

Começa por enumerar a primeira vez que uma mulher foi médica em Portugal e quando puderam exercer advocacia; algumas mudanças no código civil; as primeiras moças militares, para acabar mencionando a dama que pela primeiramente foi nomeada SED (ela), ocorrida há quatro meses.

Convenhamos que confunde coisas: a lenta evolução da sociedade no que diz respeito ao acesso a profissões e à cidadania plena das mulheres – o que acarreta, em simultâneo, vantagens, inconvenientes e consequências – com a obrigatoriedade do ensino misto no CM, que não é mais do que uma regressão civilizacional!

E qualificar a sua nomeação para SED como um facto histórico é de elementar mau gosto, a começar por ser «juiz em causa própria».

Histórico porquê? O que o País ganha com isso? Era alguma causa importante? Bateu-se pelo lugar? Superou alguma oposição, questões legais, preconceitos, como arrostaram as protagonistas de alguns dos exemplos que referiu?

Ou foi simplesmente nomeada fruto de uma conveniência partidária, quiçá num processo de compensação por ter perdido as eleições nos Açores?

Antes de entrarmos na «regressão civilizacional» queremos lembrar à simpática SED que o facto de as mulheres terem tido acesso à profissão militar, sobretudo às especialidades directamente ligadas ao combate – o que além de escusado é algo anti-natura – não devia contribuir para qualquer entusiasmo da sua parte.

Então não se condenam as guerras e já não haverá homens suficientes a lutarem, que ainda se quer dar esse «privilégio» às mulheres?!

Refere as «extraordinárias enfermeiras paraquedistas, em 1961, que foram as primeiras a servir no Exército» (por acaso foi na Força Aérea – está a ver como serviu de pouco ter uma mulher como SED…).

Desconheço o seu grau de «feminista» (não confundir com «feminina»), mas presumo que não vai gostar do que vou dizer: é que no caso das «Marias» – como carinhosamente foram conhecidas – a sua principal razão de existência foi uma discriminação positiva (hoje chamar-lhe-iam sexista); isto porque fazia muito bem ao Moral de um ferido (e também aos que não estavam feridos) ter a seu lado o carinho e o jeito especial (maternal?) de uma mulher para o tratar. Era uma espécie de bálsamo.

Senão que diferença faria dos enfermeiros do género masculino?

E sabe porque correu tudo muito bem?

Porque era pontual e específico, foi tudo muito bem organizado e as enfermeiras foram formadas e mantidas no seio de uma das unidades mais capazes e disciplinadas que possuíamos.

Tudo ao contrário da precipitação, perfídia e mau instinto como toda a actual situação foi cozinhada!

Por acaso BC já terá ouvido falar de um «grandioso» projecto imobiliário/turístico, em estudo na Câmara de Odivelas, faz tempo, em que as instalações do IO são parte?

Vamos então analisar porque a afirmação que faz de que «as mulheres têm juridicamente os mesmos direitos do que os homens, mas não podiam, até agora, estudar no CM», é uma regressão civilizacional.

A falácia descortina-se a léguas e começa por representar uma diminuição de opções. Qual será o problema de haver separação de sexos, mutila? Ou o que se quer mutilar é a própria Instituição Militar?

As raparigas (menores) não poderem frequentar o CM em nada lhes tolhia os direitos. São opções distintas. Além disso as moças têm mil e um locais onde podem ter ensino misto e outras (poucas) onde podem optar por ensino só feminino.

Mesmo a educação militar que há no CM, também já há muito, foi extensiva ao IO.

Falácia também, porque era recíproco, isto é, os rapazes também não podiam frequentar o IO!

Mas, com o encerramento do IO – o que Deus não permita – o problema põe-se ao contrário: os rapazes já não podem matricular-se naquele colégio. Ficam discriminados…

Já agora, porque não defende, outrossim, que as camaratas sejam mistas? Ou até, que haja vagas obrigatórias para transexuais, bi, ou qualquer outro género «hermafrodita»? Será por serem menores?

Mas nesse caso porque é que o mesmo critério não se aplica ao género feminino e masculino?

Poupe-nos BC, se há o direito de haver escolas mistas porque não pode haver o mesmo direito para outras, que o não sejam?

Pelos vistos e à falta de mais argumentos (a não ser a falácia das contas, já por outros desmontada) o MDN – com a aparente demissão e, ou, conivência silenciosa e lamentável, das chefias militares – reduz tudo a uma questão de género!

Que indigência mental é esta que visa acabar com um colégio – do qual não se conhece passivo de qualquer espécie – cuja existência só é ultrapassada por 15 países que, para além de Portugal, têm a sua fundação ou independência anteriores ao CM?[2]

Com que direito, em nome de uma suposta modernidade, modas passageiras ou de igualdades espúrias[3], se quer destruir o património material, moral e espiritual da Nação Portuguesa, com um simples despacho, baseado em estudos de opereta?

Já repararam que estes políticos além de serem incapazes de resolver um, que seja, dos graves problemas que afectam o nosso país, ainda passam a vida a inventar problemas onde não os há?

Fazer História?

Doutora Berta Cabral faça um favor a si mesma: vá para casa, reflita um pouco e dedique-se a algo para que tenha jeito.


[1] Escola de excelência, de características únicas, fundada em 1900.

[2] Um na América, os EUA; quatro na Ásia, Japão, Irão, Nepal, e Tailândia e 10 na Europa, incluindo Andorra, Mónaco e São Marino. Dados fornecidos pelo ex-aluno n.º 134/1945, que não conheço, mas a quem tiro o chapéu.

[3] O Homem e a Mulher serão sempre diferentes em termos fisiológicos quer em sentimentos, e não há poder na Terra para mudar isto!





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